Archive | Setembro 2013

Experiência na educação e amarras institucionais

blog-i9-xd2Há algumas semanas conheci um rapaz de 21 anos. Completamente diferente de tudo que já vi. Me inspirou com sua aspirações e ideais mesmo com tão pouca idade.

Com um espírito empreendedor e ar aventureiro me contou que estava trabalhando em uma grande empresa e que em seu primeiro dia de trabalho os diretores decidiram dar-lhe um bolsa de estudos integral. “Vamos pagar a sua faculdade” diziam os diretores àquele garoto prodígio que nascia e teria uma trajetória magnífica naquela empresa. Tudo estava muito bem, ótimas notas e desafios na empresa e na faculdade. Professores interessados em conhecer aquela mente brilhante. 2° período e alguma coisa aconteceu. “Um estalo deu em mim! Tenho uma meta, até os meus 25 anos terei meu próprio negócio e se eu continuasse a aceitar aquela oportunidade, teria que dar a contrapartida para a empresa por mais 4 anos! Tomei uma decisão: fui ao meu gerente, expliquei a situação e pedi minha demissão. Na faculdade abandonei o curso. Estou estudando por conta própria, até porque todas as matérias que eram ensinadas eu já sabia e não tinha novidade nenhuma. Com os meus livros e estudos, faço meu tempo e sou dono do meu próprio conhecimento”, disse o prodígio.

Com base nesta fala, associei a um assunto que soube recentemente através de um debate. Um estudante propôs a 5 professores desenvolver um Doutorado Informal afim de “mergulhar numa experiência de educação significativa e sem amarras institucionais”. Diante deste novo cenário educacional há que se pensar para onde nossos centros do saber estão caminhando. Conversando com meu amigo João Souza, que atualmente reside em Coimbra, Portugal, segundo ele na Europa já existe um grupo que segue esta linha informal e tem acesso a fundos tão bons quanto das universidades conceituadas e seus pesquisadores. Existe uma discussão por lá em que a “escola” formal precisa se atentar com essas iniciativas porque o mercado sempre busca especialistas sejam doutores, mestres ou “sabedores”.

“E hoje a única coisa que as instituições educacionais fazem é o que? Atestarem o seu saber!”, disse Souza. Imaginem: se o mercado resolver que é desnecessária esta validação das universidades e decidir por eles mesmos a avaliarem seus profissionais por metodologias mais eficazes?! O que as universidades vão fazer? Chorar? Não vamos desfazer do modelo já existente e que tem dado certo, mas as maneiras de trabalhar a educação precisam ser repensadas com certa urgência.

Com o acesso veloz às informações a juventude 18.24 (leia 18 a 24 anos) já começou a entender que o conhecimento e compartilhamento de informações se encontra disponível em todos os lugares. Estamos vivendo uma revolução. Uma prova disto é a pesquisa realizada pela Box 1824 intitulada pesquisa o sonho brasileiro que analisa os desafios deste novo público e cultura hiper conectada. Hoje o que mantem as portas das escolas e universidades abertas não é conhecimento, os livros ainda estão nas bibliotecas e as informações viajam muito rápido na internet! O que as mantem abertas é o negócio da obrigação da formação e principalmente da conquista do diploma, e onde estão as experiências? Segundo pesquisa realizada pela Box 1824 foi feita a seguinte pergunta: Os jovens de hoje estão preparados para atuarem no mercado quando saem das universidades? Para as universidades 75% estão preparados, para os jovens, 45% e para as empresas 42%. A baixa satisfação vem do cliente principal, empresas que necessitam desta mão de obra qualificada recém-saída das escolas. A Universidade 2.0 precisa surgir e acompanhar estas evoluções. E enquanto pensamos em expansão do negócio a fim de facilitar a mobilidade urbana e captação de alunos é preciso traçar, paralelamente um novo caminho e se reinventar. Um espaço para praticar e aplicar conhecimento, um espaço para dialogar e fazer network. “Olhar não com o nosso olhar, mas com um novo olhar.”

A política no mundo dos likes e compartilhamentos

somos-a-rede-social_3De uma forma um pouco tardia, o Brasil vem descobrindo o poder das redes sociais no âmbito da política. O que já vemos nos EUA desde a primeira eleição de Obama, na Europa desde a crise do Euro e, principalmente, no Oriente Médio, desde a primavera árabe, começa a dar as caras aqui no Brasil.

As redes sociais que, no Brasil, habitualmente são usadas para papos de boteco sobre futebol, análises apuradas sobre a programação televisiva e, principalmente para exaltar a futilidades do cotidiano alheio, começam a virar campo de discussão política.

O laboratório disso foram as manifestações do mês de junho, onde as redes sociais foram o principal foco das mobilizações, cobertura dos eventos e principalmente discussões sobre as questões políticas do país. Mas como isso aconteceu? Porque demorou tanto?

É só pensar um pouco. O público das redes sociais gosta de saber a opinião alheia e, segundo o instituto Nielsen, cerca de 70% dos usuários levam em consideração as experiências e opiniões de outros. Se considerarmos que, com mais pessoas conectadas a interação entre elas aumenta, está preparado o cenário para o debate de diversos assuntos, principalmente os que estão em maior evidencia. No caso do Brasil, com a articulação dos movimentos de contestação, as redes sociais popularizaram o tema política e, desde os engajados aos que aderiram por empolgação, fizeram com que ele fosse uma questão da “moda”, dando corpo ao “gigante” que se erguia.

Hashtags e palavras de ordem digitadas em espaços de 140 caracteres ou na descrição de uma foto fizeram das redes sociais uma importante ferramenta de questionamento da situação política, mas não deu foco ao “gigante” que se ergueu. E nem vitalidade, pois com o mesmo ímpeto que as pessoas aderiram, elas se dispersaram e, o mesmo “gigante” parou.

Vamos entrar no período eleitoral que promete ser o de maior uso das redes sociais em campanhas. Acho que é demais imaginar que elas sejam bem usadas pelos candidatos, uma vez que é uma minoria pífia que as usa de forma profissional e inteligente. Por outro lado, espero que seja o mínimo acreditar na capacidade da população de usá-las de forma racional, pois elas trazem informação, abrem espaço para discussão e principalmente colocam mais perto dos assuntos que a mídia de massa dificilmente vai levar ao se conhecimento. O que nenhuma rede social vai dar é a inteligência e o discernimento para saber o que fazer na hora de votar. Isso vai continuar sendo com você.

Uma análise fria da reabertura do julgamento do mensalão

Foto 01Para iniciar minha participação neste blog, quero discutir, como não poderia deixar de ser, o novo julgamento dos condenados pelo “mensalão”. Mas quero expor uma visão diferente, levando à reflexão de outros  aspectos neste mérito. Assim como 200 milhões de brasileiros, estou indignado com a aceitação dos embargos infringentes, os quais ainda não sei bem o significado e, por isso, não vou discuti-lo.

Porém, quando procurava respostas na web, e acompanhava a repercussão do voto do ministro Celso de Mello, eis que sou surpreendido com a informação de que os embargos já eram previstos e são constitucionalmente legais, devido ao regimento interno do Supremo Tribunal Federal – STF. Partindo do pressuposto que essa manobra já se encontra na lei que rege nosso país, vamos ao segundo round do julgamento.

Com advogados competentes e muito bem pagos, diga-se de passagem, José Dirceu, Genoino, e a turma do dinheiro fácil terão uma segunda chance, validada pela Constituição federal. Então sim. É legal e perfeitamente legítimo o novo julgamento, mesmo que ele vá contra a opinião pública. Mas qual o problema desse novo julgamento não ser de interesse social? Quando a opinião pública dos brasileiros foi levada em consideração no Planalto Central?

O fator de interrogação do novo julgamento dos mensaleiros é a mudança dos ministros, com dois novos nomes na corte. Barroso e Zavascki não estiveram presentes no primeiro round, então o questionamento é: Até que ponto estes dois novos ministros vão influenciar na antiga decisão do Supremo? Qual será o peso deles na nova decisão? Estas são perguntas que ficarão sem respostas por tempo indeterminado. Certo é que o próximo capítulo desta história tem novos personagens e transforma o julgamento em uma incógnita.

O intrigante é que, em um dado momento, o Executivo brasileiro tentou tirar de nossa constituição os tais “embargos infringentes”, mas, surpreendentemente, ou nem tão surpreendente assim, o congresso nacional votou contra e eles foram mantidos.

Então, em uma análise fria, deixando meu sentimento de frustração e indignação de lado, o Supremo agiu conforme a Lei orienta. Concordo que neste caso teve uma “bondade” a mais por parte de nossos ministros, mas foi legítimo. Os advogados de defesa agiram rápidos e com o famoso e triste “jeitinho brasileiro”, deram sobrevida a seus clientes e colocaram em cheque se a justiça realmente será feita, ou se iremos saborear mais uma pizza na obscura história de nossa democracia.

Em resumo, voltamos ao rubro do julgamento que pode abrandar a pena de 12 condenados, e aquela sensação de justiça de outubro passado já não existe mais. Nossos políticos continuam fazendo manobras que beneficiam a classe em  eventuais “deslizes” cometidos por um deles, ou vetar o projeto que acabava com os embargos vai beneficiar o proletariado? O STF caiu em descrédito e nos faz indagar se existe justiça no Brasil, leva-se em conta que, já no caso Donadon, a nossa Corte Suprema foi simplesmente ignorada pela Câmara dos Deputados, que manteve seu mandato, mesmo sendo condenado pelo Tribunal.

Perdemos o foco, perdemos o rumo e não temos a quem recorrer. A voz das ruas foi ouvida, mas ainda não foi o suficiente para mudar a direção do país. É preciso mais, será preciso mais… Mas está em nossas mãos o poder de mudar, e que 2014 seja iluminado e nossos votos sejam contra a turma que insiste em nos humilhar perante o mundo.