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Eu me elejo com as redes sociais?

idRef_120810133211-idFile_47 (1)A resposta é não. Na verdade o não chega a ser até óbvio, apesar de ter muita gente por aí pensando que isso é possível. Isso acontece, porque ainda é normal confundir importância com garantia de vitória. Nem adianta citar o Obama, pois não vai “colar”. As redes sociais foram suas “cartas na manga” e não sua garantia de vitória e não teriam feito nada se não tivessem sido bem usadas. Vamos entender melhor essa questão.

Ninguém vota pelas redes sociais e o sucesso nelas não garante sucesso nas urnas. Logo, elas não fazem ninguém ganhar uma eleição, o que não quer dizer que você deva desistir delas. O caminho é outro. Transforme esse sucesso no ambiente digital em resultados práticos. Como? Com engajamento.

Só usuários realmente engajados serão capazes de levar para fora das redes sociais suas ideias de campanha e converter isso em resultados nas urnas. O segredo é não focar em quantidade de envolvidos na militância digital, mas sim na capacidade de transformar esse fervor online em participação efetiva do eleitorado. É a capacidade mobilizar pessoas em torno de uma mensagem que saia do virtual para o real. Ganha quem faz das redes sociais uma plataforma para falar com o eleitorado, com conteúdo relevante e interação continuada. Isso traz engajamento.

As redes sociais são canais de contato entre o eleitorado onde a mensagem do candidato tem uma penetração maior do que em outros meios. Ou seja, redes sociais são meio e não fim. São plataformas de apresentação de propostas e discussão de ideias que aumentam a visibilidade ao candidato. Foi-se o tempo dos palanques e chegamos aos ambientes de discussão das propostas onde o eleitor falar com o candidato.

Com espaço e a penetração que conquistaram no Brasil, as redes sociais são as meninas dos olhos dos candidatos, passando a ser uma obrigação de qualquer equipe de marketing político. Elas funcionam sozinhas? Evidente que não. Pensar de forma estratégica é primordial e separar sua campanha digital da física e das outras mídias eletrônicas é um verdadeiro tiro no pé. Aí, entra a tal da sinergia entre canais. Todos os eixos da campanha precisam andar lado a lado e não se tornar refém na tendência do momento.

A Minirreforma eleitoral na internet

imageNa última semana tomei conhecimento até tardiamente, daquela que é chamada de “minirreforma eleitoral”. Ao ler a matéria de André Barrocal para a Carta Capital, deparei-me com a afirmativa de que essa minirreforma “criminalizaria a ação política virtual”, o que logo de cara já me chamou atenção. Como se daria essa criminalização?

Num primeiro momento a matéria dizia que a lei enviada pelo Congresso ao Palácio do Planalto na segunda, dia 25, prevê que a “difusão de mensagens e comentários ‘ofensivos’ à honra ou à imagem de candidatos, partidos e coligações será considerada crime e punível com prisão e multa para o autor e seu contratante”.

Quem apresentou o projeto original, em 2012, foi o senador do PMDB de Roraima, Romero Jucá, sem conter os dispositivos incriminadores de condutas virtuais. Tais dispositivos, que constam na “minirreforma eleitoral” foram incluídos em setembro deste ano, por proposta do senador Cássio Cunha Lima, do PSDB da Paraíba.  A emenda de Cunha Lima, prevê que quem postar mensagens classificadas como criminosas será punido com multa de 5 mil a 30 mil reais e com prisão de seis meses a um ano. Se a pessoa tiver sido contratada por alguém, esse contratante receberá uma multa de 15 mil a 50 mil reais e poderá ficar de dois a quatro anos na cadeia.

Ficou com impressão de cerceamento à liberdade de expressão? Pois é, eu também. O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), numa segunda matéria da Carta Capital, explicou que, na verdade, a intenção é “coibir somente a ação de grupos remunerados montados para atacar candidatos e partidos rivais nas eleições”, o que pode ser interpretado como ativistas profissionais que se organizam para espalhar conteúdo prejudicial à honra e à imagem de adversários. Aquele velho jogo sujo que já conhecemos de outras eleições.

Uma medida em prol do jogo e de uma disputa eleitoral limpos ou um dispositivo que visa proteger a imagem dos políticos e cercear o direito de livre expressão dos usuários? Temos uma questão delicada aí. O mais intrigante é que, na mesma matéria da Carta Capital, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinicius Furtado Coelho, apontou o risco de censura, pois da forma como o texto foi votado, a divulgação de conteúdos verdadeiros estará ao alcance de punições. Preocupante.

Querer estabelecer dispositivos que ajudem o eleitor a fazer uma boa escolha, impedindo que as eleições sejam um show de acusações e enxurrada de denúncias, não pode se tornar uma brecha para censurar a liberdade de expressão e o direito de opinião do cidadão. Dilma tem até a primeira quinzena deste mês de dezembro para vetar ou sancionar o texto.

O projeto remetido à sanção pode ser lido aqui:

http://legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-pdf/141462.pdf

Creio que devemos, no mínimo, discutir essa “minirreforma”, pois se ela desperta tantas dúvidas, não é prudente simplesmente deixar para ver no que vai dar. Nossa história já provou que isso nunca é uma boa ideia.

Porque a Dilma voltou?

dilmaveVamos lá, quem já acompanhava a presidenta nas redes sociais sabia que ela mantinha uma frequência invejável de postagens e tweets, haja vista que sua última aparição em redes sociais havia sido há míseros 32 meses. Tudo bem, deixando as ironias de lado e aceitando que ela não era das usuárias mais assíduas, o que justificaria tamanha hiperatividade mostrada nas últimas semanas?

Bom, vamos por partes. Em setembro, a presidenta se encontrou com o personagem “Dilma Bolada”, sátira feita por Jeferson Monteiro, que é um sucesso nas redes sociais. Assim, Dilma Rousseff voltou a ficar online e retomou a rotina de postagens e tweets de forma frenética, com uma média de quase 11 mensagens ao dia em sua conta no Twitter, que já beira os 2 milhões de seguidores. Além disso, ela já tem uma conta no Instagram e passou a atualizar sua página no Facebook que leva seu nome. Com isso, a presidenta voltou a ser uma das lideranças mais influentes da web, ganhando mais de 40 mil “amigos” no Facebook e mais de 90 mil seguidores no Twitter.

Já deu para entender, não é? Tudo não passa de estratégia. O governo está apostando nas redes sociais para reposicionar a imagem de Dilma Rousseff, que sofreu uma queda brusca de popularidade depois das manifestações de junho, que foram mobilizadas justamente nas redes sociais. Somam-se a isso os interesses eleitoreiros de Dilma, que já prepara o terreno para sua reeleição e teremos uma justificativa mais que suficiente para o ressurgimento da presidenta nas timelines dos seus fãs e seguidores.

A chefe de estado brasileira era do tipo que “ficava on” na época eleitoral e depois desaparecia. Mau exemplo que propiciou a grande surpresa diante das manifestações, já que, como não dava a devida atenção às redes sociais, não reparou que o “gigante” estava levantando. O pensamento analógico do governo, em que os representantes não interagem com seus cidadãos, expôs falta de preparo dele para esse novo cenário.

De repente, não só Dilma, como vários políticos, descobriram a importância de sua presença digital e passaram a dar atenção especial a ela. Mesmo com a grande maioria da população brasileira não tendo contato consistente com as mídias sociais, ficou claro que o poder delas não pode ser desprezado.

Apesar de ainda não existir nada que comprove a influência das redes sociais sobre o voto é evidente a importância delas como canal de comunicação e é o que se espera que os políticos entendam. Eles não podem mascarar a realidade nelas, então, porque não falar através dela? Falar com quem os elegeu? Tem coisa mais primária num regime democrático?

A política no mundo dos likes e compartilhamentos

somos-a-rede-social_3De uma forma um pouco tardia, o Brasil vem descobrindo o poder das redes sociais no âmbito da política. O que já vemos nos EUA desde a primeira eleição de Obama, na Europa desde a crise do Euro e, principalmente, no Oriente Médio, desde a primavera árabe, começa a dar as caras aqui no Brasil.

As redes sociais que, no Brasil, habitualmente são usadas para papos de boteco sobre futebol, análises apuradas sobre a programação televisiva e, principalmente para exaltar a futilidades do cotidiano alheio, começam a virar campo de discussão política.

O laboratório disso foram as manifestações do mês de junho, onde as redes sociais foram o principal foco das mobilizações, cobertura dos eventos e principalmente discussões sobre as questões políticas do país. Mas como isso aconteceu? Porque demorou tanto?

É só pensar um pouco. O público das redes sociais gosta de saber a opinião alheia e, segundo o instituto Nielsen, cerca de 70% dos usuários levam em consideração as experiências e opiniões de outros. Se considerarmos que, com mais pessoas conectadas a interação entre elas aumenta, está preparado o cenário para o debate de diversos assuntos, principalmente os que estão em maior evidencia. No caso do Brasil, com a articulação dos movimentos de contestação, as redes sociais popularizaram o tema política e, desde os engajados aos que aderiram por empolgação, fizeram com que ele fosse uma questão da “moda”, dando corpo ao “gigante” que se erguia.

Hashtags e palavras de ordem digitadas em espaços de 140 caracteres ou na descrição de uma foto fizeram das redes sociais uma importante ferramenta de questionamento da situação política, mas não deu foco ao “gigante” que se ergueu. E nem vitalidade, pois com o mesmo ímpeto que as pessoas aderiram, elas se dispersaram e, o mesmo “gigante” parou.

Vamos entrar no período eleitoral que promete ser o de maior uso das redes sociais em campanhas. Acho que é demais imaginar que elas sejam bem usadas pelos candidatos, uma vez que é uma minoria pífia que as usa de forma profissional e inteligente. Por outro lado, espero que seja o mínimo acreditar na capacidade da população de usá-las de forma racional, pois elas trazem informação, abrem espaço para discussão e principalmente colocam mais perto dos assuntos que a mídia de massa dificilmente vai levar ao se conhecimento. O que nenhuma rede social vai dar é a inteligência e o discernimento para saber o que fazer na hora de votar. Isso vai continuar sendo com você.