Arquivo | Por Lívia Horta RSS for this section

A greve dos ônibus e o egoísmo de plantão

onibus_lotado“Xi… Vocês estão sabendo? Na segunda-feira acontece a paralisação dos ônibus coletivos. Ferrou!” Foi o que um colega de trabalho disse ao fechar o expediente de sexta-feira. Mas aquela informação não me afetou, afinal, saindo de casa e dirigindo apenas 3 km para o trabalho, era puro conforto. Mas aquele 24 de fevereiro deu o que falar em BH…

Pela manhã algo que NUNCA acontecia apareceu como uma anomalia: uma fila enorme de carros em frente a minha rua, que até então, é bem vazia e tranqüila. Busquei duas rotas alternativas para chegar ao trabalho e não tive sucesso; o jeito; foi aceitar a greve dos motoristas de ônibus. Com dignidade, enfrentei um congestionamento que me custou 20 minutos a mais do que estava acostumada em meu trajeto casa-trabalho. E me valeu uma reflexão: ao olhar ao meu redor, vi dezenas e dezenas de carros, com o assento dos passageiros vazios (inclusive o meu – quanta ironia); fiquei ali, em meio àquele caos, questionando as variáveis para aquela situação: Falta de gentileza? Medo da violência? Egoísmo? E os pontos de ônibus, lotados com os futuros passageiros à espera de um milagre.

Chegando ao serviço, algumas mesas vazias, e aos poucos meus colegas chegaram atrasados e esbaforidos, imersos no desespero sincero de quem desejaria iniciar a semana sem enfrentar uma tragédia no trânsito. Ouvindo 1000 reclamações, meu telefone toca: “Minha filha, venha almoçar em casa. Ah! Eu vou ao médico”, disse minha mãe, então replico, “tem ônibus não D. Tereza! A senhora vai mofar no ponto”, então ela retruca, “o que faço então?” Não tenho resposta: “Ué, mãe, eu te levo!”. E assim foi tranqüila para fazer os exames.

Um amigo taxista comentou que um cliente disse que o protesto dos rodoviários deveria ser diferente. Eles deveriam continuar rodando normalmente, mas não cobrar passagem de ninguém. Roleta liberada. E ainda indagou: Será que daria certo? Acredito que não, embora fosse uma boa alternativa para nós trabalhadores.

Diante desse cenário, a volta para casa foi tortuosa. Minha mãe é uma sexagenária, mas ainda passa pela roleta. Vivencia pelo menos, uma vez por semana, jovens, na flor da idade, sentados a fingir que não vêem aqueles necessitados à sua volta. Gente carregando peso sem ninguém estender a mão para carregar os pacotes, pessoas nada gentis e sem o mínimo de cortesia. “Dane-se o mundo, o que importa é o meu próprio umbigo”, falou minha mãe, indignada, referindo-se à falta de gentileza e preocupação com o próximo, qualidade ausente, muito comum nas pessoas. A reclamação é freqüente.

Ouvindo esses relatos cotidianos, quero dar cinco dicas “feeling” que acontecem comigo de vez em quando, e que fogem ao olhar para meu próprio umbigo (tente praticar e ser um bon vivant):

  • No estacionamento, se alguém precisar da sua vaga e se você estiver tirando o carro, não faça hora se ajeitando dentro dele. Seja rápido, na medida certa para que o outro possa ocupar a sua vaga.
  • Dentro do ônibus, não finja que está dormindo para não ver a realidade. Encare a situação e tente resolvê-la da melhor maneira possível (carregando uma sacola, cedendo o lugar, ouvindo quem está ao seu lado). Se importar faz bem!
  • Tem dias que alguém vai levantar de ovo virado e você será o “ombro amigo” daquela pessoa; busque trazer uma sugestão / solução que possa acalentá-la nem que seja naquele momento. Garanto que você e a pessoa vão se sentir bem.
  • Tente manter o celular no silencioso e não navegar na internet enquanto você está curtindo um momento especial com os amigos. Aproveite a vida real. Há muito mais coisas legais na realidade, do que na vida virtual.
  • Sinta-se útil e use suas capacidades e habilidades para fazer o que há de melhor para o próximo, porque o mundo depende de todos nós.

Assista

Adelante!

Bem sucedidas e os caras do 2º grau

mulher-bem-sucedida-22765Recentemente sai com uma amiga que não via há tempos. Menina inteligente, graduada e concursada. Solteira, foi com as amigas para um barzinho. Após alguns amores fracassados, conheceu um rapaz interessante. Começaram a se encontrar e alguns meses depois, o enlace se transformara em namoro. Ela, uma mulher bem sucedida e ele, um rapaz trabalhador, empreendedor e com o 2º grau concluído. “Eu o amo como nunca amei ninguém”, disse ela.

Desde pequenas as mulheres são condicionadas a serem as meninas e esposas perfeitas. Bem educadas deveriam construir uma família equilibrada, cuidar do marido e dos afazeres domésticos. No livro Tete a Tete, o autor Hazel Rowley, retrata as vivências do casal Paul Sartre e Simone Beauvoir onde cita: “As mulheres permaneciam virgens até o casamento; os homens não. As mulheres que não se casavam inspiravam pena. E mesmo sendo bonita e culta, só com um dote substancial podia aspirar a um casamento desejável.” Tempos antigos que permanecem com seus resquícios. As mudanças aconteceram ao longo dos anos e as mulheres foram para as ruas, chegaram até às escolas e a cada dia o número cresce significativamente nas universidades, segundo dados do IBGE, em 2010, 7 milhões de mulheres contra 5 milhões de homens possuíam curso superior em todo o Brasil. O que significa um grande salto educacional em tempos modernos.

Nas conversas com o universo feminino, essa “equiparação” de direitos, e as várias conquistas advindas da emancipação feminina trouxeram algumas exigências que são comuns de serem ouvidas tais como: “Quero uma pessoa que tenha uma universidade, um emprego, uma estabilidade para iniciarmos uma vida juntos!” e é nesse ponto que quero tocar, com base na conversa que tive com minha amiga e que me fez refletir sobre essa pseudo determinação de que mulheres graduadas querem homens graduados para uma vida a dois. Num “mercado” escasso… A reflexão vale uma boa análise. Quem disse que para se ter um bom relacionamento precisamos de pessoas graduadas? Onde está escrito isso? Como ela mesma disse, existem muitas pessoas legais que valem à pena serem conhecidas e que necessariamente não estão nas universidades, merecem uma chance e podem ser tão interessantes quanto.  Não digo que vai dar certo, mas não custa tentar, se arriscar. Os sinais estão por toda a parte, cabe a nós, desfazermos desse pré-conceito, buscar novas experiências, descobertas e nos dar uma chance de ser feliz e construir um futuro a dois juntos. Talvez com a convivência um incentive o outro a ser melhor a cada dia e é nesse caminhar, que tudo se transforma e melhora! Adelante!

Qualificação: Cursos técnicos gratuitos em expansão no Brasil

PronatecAs universidades privadas estão a todo vapor com o objetivo de implantarem o Pronatec– Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – essa é uma oportunidade que visa democratizar a educação profissional e técnica, através do aumento do número de vagas.

Acompanhando as notícias estampadas nos jornais acredito ser um grande passo as universidades privadas participarem da implantação do Pronatec, juntamente com as escolas públicas federais, estaduais e municipais. Será uma boa oportunidade para jovens e adultos que ainda não tiveram a possibilidade de entrar num curso superior e almejam a realização de um sonho e uma melhor colocação profissional. O fato do governo, oferecer, gratuitamente, diversos cursos técnicos, é uma grande vantagem para aqueles que não possuem condições ou não desejam fazer uma graduação. E uma forma positiva de auxiliar as empresas que necessitam de pessoas qualificadas para as áreas técnicas, visto que esta mão de obra está muito escassa.

Com esta nova parceria (governo e universidades privadas) a expansão do Programa é bem simples: utilizar a capacidade ociosa dos espaços acadêmicos privados a fim de fomentar cursos técnicos, gratuitamente, para a população. Mas o melhor de tudo é a oportunidade de capacitação e formação. O que se espera é que mesmo com o sucesso do Programa, com cerca de 8 milhões de pessoas atendidas, até o momento, a política pública educacional seja repensada a fim de tornar acessível a todos e a articulação e o empenho maior e mais participativo do setor público, privado e terceiro setor com o objetivo de alcançarem  guetos, e comunidades onde estão os vulneráveis os menos favorecidos os que precisam desse impulso para ter uma vida digna e acesso a melhores oportunidades no mercado de trabalho.

E deixo um desafio: a universidade privada, ser pioneira e levar o Pronatec para dentro das comunidades carentes promovendo cursos de capacitação que atendam às necessidades desses espaços e público, (as universidades federais já fazem isso). O Pronatec deveria “invadir” as comunidades, mesmo que fosse somente com cursos de formação inicial e continuada (nenhuma faculdade privada fez isso ainda!). É pensar fora da caixa levando uma seleção de cursos para estes lugares em parcerias com associações comunitárias e escolas. Com o Pronatec atuando dentro das comunidades teremos uma abrangência maior, vamos evitar uma possível evasão e é uma boa forma de incentivar e motivar os alunos a se dedicarem aos estudos. As melhorias já estão acontecendo, e a vontade de muitos brasileiros é que as mazelas, lutas e dificuldades que imperam em nosso país sejam resolvidas através da educação. Queremos mais!

Então, 2013 está quase…

tchau 2013Saio para almoçar e lá estão eles. Crianças entre 5 e 12 anos de idade com uma caixinha na mão, passam entre os carros, pedem moedinhas por um natal mais feliz. – “Menino! Vai estudar!”, o menino emudecido dá um tchau para a partida e com um olhar meio distante não diz uma só palavra; então penso: estamos a menos de um mês das comemorações de final de ano. O que mudou?

O espírito natalino se aproxima e junto com a onda do consumismo começa o ciclo de compras sem fim. Mais endividamento. Nesta época o apelo comercial é maior do que o verdadeiro sentido que leva à reflexão de mais um ano concluído e os planos que estão por vir para o próximo.

Calendário de atividades 2014. Ano curto.

  • Março: Carnaval (Ou seja, janeiro e fevereiro nos preparamos para receber de “braços abertos” esta comemoração.)
  • Abril – Junho: Preparação para a Copa do Mundo e últimos detalhes para o maior evento de todos os tempos.
  • Julho – Outubro: Começamos a ser bombardeados pelas eleições.
  • Outubro – Dezembro: Chamada para 2015.

E que venham os jogos olímpicos de 2016.

2014 será um ano de muitas expectativas e que vai marcar a história do nosso país. Vamos nos planejar para que seja um ano marcante.

Tchau 2013…

Gentileza e microrrevoluções

DSC07471Ontem, 13 de novembro foi o Dia Mundial da Gentileza. Gentileza no dia a dia deveria ser prática constante na vida das pessoas, gente mal humorada ninguém merece. Assisti a uma palestra da Leila Ferreira, apresentando seu livro “A arte de ser leve” e ela contou uma história interessante que ilustra bem como temos sede de gentileza: Certa vez em um quartel, havia um general que todos os dias, pela manhã, gritava asperamente com seus soldados. Nunca estava satisfeito com a formação por mais dedicados que fossem. Um dia um aspira questionou ao tenente que acabara de sofrer uma sova do general, porque o oficial de alta patente estava sempre tão irritado e certamente ele respondeu: nosso general calça sapato um número a menos, ou seja, sapato SEMPRE apertado, de maneira que ele sempre que sente dor em seus pés, se lembra que precisa destruir e desestabilizar o próximo, no caso, a tropa.

Refleti sobre esse episódio e o repliquei às nossas cotidianas vidas. Quantas e quantas vezes temos a oportunidade de flexibilizar, mas deixamos um sapato apertado nos importunar? A ira nos contamina de maneira que ficamos coléricos e atacamos sem pensar nosso próximo.

E a dita gentileza permeia por caminhos que nem imaginamos. Ela perpassa pelo amor ao próximo, comprometimento, respeito, e principalmente, paciência. Ser gentil é se importar sem precisar “forçar a barra” porque vem acompanhado de sutileza; é natural quando praticada diariamente. Não tira pedaços, não dilacera a alma. Quer ser gentil tente sorrir com os olhos, dê um aperto de mão confiante, um bom dia, deixe o celular de lado ou o computador quando alguém for conversar com alguém, afinar a audição é reaprender a ouvir, agradeça. Mas tem práticas que são mais severas e exigem muito de nós: gentileza no trânsito é um exemplo clássico; (quem nunca?). Quer algo mais gentil do que saber requisitar nossos direitos? Sabemos fazer de maneira polida, embora alguns de nossos governantes tirem de nós, desumanamente, a dignidade da pátria mãe gentil. Cabe a nós se manifestar e ir na contramão da violência moral que assola e, por vezes, nos iguala aos que se prestam dirigir nossa nação e nos envergonham com tamanha falta de gentileza e zelo.

Ainda bem que existem muitas pessoas que acreditam que gentileza vale à pena, entre elas o movimento Coletivo Gentileza, em Belo Horizonte, que acredita “que a mudança que a gente deseja para o mundo começa com as microrrevoluções nossas de cada dia!”. São movimentos com esse sentimento, que começam a fazer pequenas transformações e podem modificar o mundo;  fazer a diferença na vida das pessoas. Como diz o Profeta: “Gentileza Gera Gentileza!”  É um ciclo positivo e vamos fazer nossa parte, contaminar o mundo com as ações que tragam o bem.

A palavra é: Comprometimento

060911-scrumtoon-portuguese-brazilCerta vez tinha um paquera e o convidei para almoçar. Era uma quinta-feira e marcamos de nos encontrar no sábado, próximo. Seria um almoço em um restaurante no bairro ao qual resido. Encontro marcado para às 15h. Lá vou eu toda maravilhosa, com aquela expectativa que toda mulher que está conhecendo um cara tem (até o imagina já lá no altar esperando, linda de véu e grinalda, #soquenão). Sentei, pedi a minha entrada de sempre. Embora estivesse 10 minutos atrasada, o rapaz ainda não tinha aparecido. Aos 15 minutos de espera sentada à mesa alguém apareceu; era o garçom com o pão pizza que havia pedido. Peguei o celular e comecei a ligar (odeio sms); mandei 2 torpedos (Oi! Você está chegando?). Esperei por mais 15 minutos e percebi que o “bolo” estava dado. Mas o orgulho bateu forte e resolvi ficar; enfrentar que EU estava ali sozinha. Abri o menu e pedi a porção de almoço individual. Enquanto aguardava o pedido chegar, tentei me distrair lendo um livro que por sorte estava na minha bolsa. E por duas intermináveis horas fiquei ali, que nem “Pedro Pedreiro” até que me dei conta que o danado do gajo ali não apareceria.

O comprometimento dos outros difere. No dicionário Aurélio diz que comprometer é 1. Obrigar por compromisso. 2. Implicar; envolver. As pessoas possuem valores diferentes, o que tenho de valor e considero de extrema importância, definitivamente não é parâmetro para outra pessoa. E viva a diferença. Tenho acompanhado algumas leituras que retratam a relação que o universo feminino tem com o masculino. Confesso que busco um entendimento mais aprofundado sobre o que permeia o sexo oposto e é muito difícil entender o que fazer em determinados momentos em que existe uma atração evidente entre um homem e uma mulher. Mas o que vou discutir neste momento é o valor da história acima: comprometimento. Para Christie Hartman, em seu livro com título (nada sugestivo): “O Problema não é ele, é você!” ela cita que o homem quando honra seus compromissos ele tem caráter “e respeita o tempo dos outros, aparecendo na hora marcada, ligando no horário combinado, cumprindo prazos, observando datas; se não tem como honrar um compromisso, ele dá um jeito de avisar. (…) Marcar um dia para sair com alguém é um compromisso – não importa se os demais detalhes do encontro tenham sido combinados ou não. (…) Não dê confiança a quem não honra compromissos, seja um simples telefonema ou um encontro previamente agendado. Ignorar o combinado, além de falta de respeito e de educação, é sinal de imaturidade”, afirmou a escritora.

Comprometer-se permeia todas as esferas da nossa vida; tais como: profissão, família, relacionamento, social, etc e se somos fiéis fervorosos do comprometimento, será preciso um exorcismo para que possamos nos flexibilizar. Não é fácil; páreo duro. O tempo todo somos obrigados a praticar o exercício de paciência quer seja com o fornecedor que não pode entregar o material no prazo, no tempo certo, ou o colega de escritório que possui um estilo de trabalho diferente, ou a namorada/esposa que se atrasa sempre que se apronta para sair. E comprometidos que somos, perdemos energia rica, furiosos por conta da falta de compromisso. Acredito que as mulheres sofram mais. Nos antecipamos pela idealização. Marcamos um encontro na segunda-feira com o positivismo de que no sábado estaremos lá, lindas e poderosas. E durante a semana, são reflexões longas e profundas de como se vestir, como se portar, expectativas que aumentam à medida que a semana passa e o tão esperado encontro está prestes a acontecer sempre seqüenciado de um receio absurdo que causa um vazio e borboletas na barriga. A possibilidade do universo masculino desdenhar do encontro e optar pelo churrasco na casa da turma da cerveja e do futebol é imensa. E a falta de comprometimento causa decepção e desapontamento; e, ainda, a fúria que deixo por minha conta risco. Um recado para os rapazes que gostam de desmarcar encontros: as mulheres se antecipam porque se planejam. Embora saibam improvisar muito bem, mas se vocês têm um compromisso saibam cumprir ou se antecipem. Costumo dizer que o que uma pessoa faz com a outra, é o reflexo do que ela faz consigo mesma. Me inspiro na história do porco e da galinha onde temos o comprometido e o envolvido: a galinha e o porco montaram uma empresa de omelete. A galinha entraria com os ovos e o porco com o bacon. Nessa história fica claro que a galinha está envolvida e o porco comprometido. Pra fechar, cito Confúncio: “espere muito de ti e pouco dos outros, assim evitarás aborrecimentos.” Vamos praticar a boa educação, o que é combinado não sai caro. Vamos combinar? Se comprometa!

Morte, Amizades Reais e Redes Sociais

FacebookNo mês passado perdi minha tia Dora, morreu com seus 87 anos. Bons anos vividos até a chegada de um câncer que a levou devagar e estupidamente. Em seu velório, filho, nora, netos, familiares e entes queridos. O corpo lá no caixão; ela parecia estar dormindo. Foi em paz. O neto, pelas redes sociais fez uma bela homenagem, um bonito texto que em poucas palavras resumia seu amor ao longo de todo esse tempo juntos. Algumas manifestações de carinho foram vistas nas redes sociais deixadas por seus sobrinhos.

Naquele dia, diante do caixão, velório, orações, “ela se foi”, enterro e pá de cal, parei para refletir quantas pessoas tinham ido para dar seu último adeus e percebi que quem estava ali, teve uma história juntos. Ironicamente neste mundo, onde somos reles mortais, mesmo com “tantos” amigos, nossas conexões são restritas a poucos. E os poucos que valiam à pena, estavam lá.

Este cenário delicado me fez lembrar uma charge conhecida onde se vê um velório e duas pessoas, elas comentam entre si, assustadas sobre a ausência dos amigos das redes sociais: quase ninguém tinha ido se despedir do defunto.

O fenômeno das redes sociais nos traz um falso reforço de que não estamos sós. Contabilizar os amigos da rede e receber vários “likes” é reconfortante. O indivíduo tem a sensação de que é amado, aceito o que pode não ser verdade; Bauman cita em seu livro Amor Líquido que “quanto mais as pessoas permanecem num ambiente uniforme – na companhia de outras ‘como elas’, com as quais podem ‘socializar- se’ de modo superficial e prosaico sem o risco de serem mal compreendidas nem a irritante necessidade de tradução entre diferentes universos de significações -, mais se tornam propensas a ‘desaprender’ a arte de negociar um modus covivendi e significados compartilhados.”. Desta forma embora tenhamos muitos amigos/contatos só nos relacionamos e curtimos aqueles que nos assemelham àquilo que nos apetece, de forma a evitar aqueles que divergem os nossos pensamentos, deixando assim de criar uma percepção diferenciada e inovadora daquilo que estamos habituados. O que não é divergente não traz discórdia nem é questionado, todos estão de acordo e são felizes.

Um estudo feito pelos professores Ethan Kross, da Universidade de Michigan (EUA) e Phillipe Verduyn, da Universidade de Leuven, Bélgica ainda revela um dado, embora “secreto” já vivenciado pelos praticantes do Facebook (me incluo nesse “bolo”): os professores descobriram que quanto mais você usa o Facebook, mais você fica infeliz. Mas há uma esperança; quanto maior o contato social direto, com amigos de carne e osso, sem mediação digital, maior a sensação de felicidade “A amizade é algo que vai além da comunicação, é a sensação de comunhão com o outro.” Outro aspecto a ser considerado, segundo Kross e Verduyn:  o Facebook pode ativar um poderoso processo de comparação social e sentimento de inferioridade profundo: “os indivíduos tendem a postar informação, fotos e anúncios que fazem com que suas vidas pareçam sensacionais. A exposição frequente a esse tipo de informação pode levar o outro a sentir que sua vida é, em comparação, pior”. Como tem dito o candidato às próximas eleições para a presidência do Brasil, Aécio Neves: VAMOS CONVERSAR?… pessoalmente.

PS: Retomando a reflexão sobre o ponto final da morte, meu amigo Jefferson Lisboa, acolheu com sabedoria meu questionamento sobre esse mundo insano: “em nossa lápide escrevem-se seu ano de nascimento, um traço (-) e o ano de morte. Simples assim. O traço é o significado do trajeto de toda a sua vida. E aí? Qual é a sua história? Qual a marca que você está deixando aqui?” Que seja a reflexão: seu traçado será a diferença? Vamos conversar?

Experiência na educação e amarras institucionais

blog-i9-xd2Há algumas semanas conheci um rapaz de 21 anos. Completamente diferente de tudo que já vi. Me inspirou com sua aspirações e ideais mesmo com tão pouca idade.

Com um espírito empreendedor e ar aventureiro me contou que estava trabalhando em uma grande empresa e que em seu primeiro dia de trabalho os diretores decidiram dar-lhe um bolsa de estudos integral. “Vamos pagar a sua faculdade” diziam os diretores àquele garoto prodígio que nascia e teria uma trajetória magnífica naquela empresa. Tudo estava muito bem, ótimas notas e desafios na empresa e na faculdade. Professores interessados em conhecer aquela mente brilhante. 2° período e alguma coisa aconteceu. “Um estalo deu em mim! Tenho uma meta, até os meus 25 anos terei meu próprio negócio e se eu continuasse a aceitar aquela oportunidade, teria que dar a contrapartida para a empresa por mais 4 anos! Tomei uma decisão: fui ao meu gerente, expliquei a situação e pedi minha demissão. Na faculdade abandonei o curso. Estou estudando por conta própria, até porque todas as matérias que eram ensinadas eu já sabia e não tinha novidade nenhuma. Com os meus livros e estudos, faço meu tempo e sou dono do meu próprio conhecimento”, disse o prodígio.

Com base nesta fala, associei a um assunto que soube recentemente através de um debate. Um estudante propôs a 5 professores desenvolver um Doutorado Informal afim de “mergulhar numa experiência de educação significativa e sem amarras institucionais”. Diante deste novo cenário educacional há que se pensar para onde nossos centros do saber estão caminhando. Conversando com meu amigo João Souza, que atualmente reside em Coimbra, Portugal, segundo ele na Europa já existe um grupo que segue esta linha informal e tem acesso a fundos tão bons quanto das universidades conceituadas e seus pesquisadores. Existe uma discussão por lá em que a “escola” formal precisa se atentar com essas iniciativas porque o mercado sempre busca especialistas sejam doutores, mestres ou “sabedores”.

“E hoje a única coisa que as instituições educacionais fazem é o que? Atestarem o seu saber!”, disse Souza. Imaginem: se o mercado resolver que é desnecessária esta validação das universidades e decidir por eles mesmos a avaliarem seus profissionais por metodologias mais eficazes?! O que as universidades vão fazer? Chorar? Não vamos desfazer do modelo já existente e que tem dado certo, mas as maneiras de trabalhar a educação precisam ser repensadas com certa urgência.

Com o acesso veloz às informações a juventude 18.24 (leia 18 a 24 anos) já começou a entender que o conhecimento e compartilhamento de informações se encontra disponível em todos os lugares. Estamos vivendo uma revolução. Uma prova disto é a pesquisa realizada pela Box 1824 intitulada pesquisa o sonho brasileiro que analisa os desafios deste novo público e cultura hiper conectada. Hoje o que mantem as portas das escolas e universidades abertas não é conhecimento, os livros ainda estão nas bibliotecas e as informações viajam muito rápido na internet! O que as mantem abertas é o negócio da obrigação da formação e principalmente da conquista do diploma, e onde estão as experiências? Segundo pesquisa realizada pela Box 1824 foi feita a seguinte pergunta: Os jovens de hoje estão preparados para atuarem no mercado quando saem das universidades? Para as universidades 75% estão preparados, para os jovens, 45% e para as empresas 42%. A baixa satisfação vem do cliente principal, empresas que necessitam desta mão de obra qualificada recém-saída das escolas. A Universidade 2.0 precisa surgir e acompanhar estas evoluções. E enquanto pensamos em expansão do negócio a fim de facilitar a mobilidade urbana e captação de alunos é preciso traçar, paralelamente um novo caminho e se reinventar. Um espaço para praticar e aplicar conhecimento, um espaço para dialogar e fazer network. “Olhar não com o nosso olhar, mas com um novo olhar.”